domingo, 17 de fevereiro de 2013

Os Doze Trabalhos de Hércules. Parte II - a Hidra de Lerna

Continuando as postagens sobre os Doze Trabalhos de Herakles, trago agora uma postagem sobre o segundo grande desafio do herói: a mortífera Hidra de Lerna.

A Hidra de Lerna

Herakles e a Hidra de Lerna.
Vaso localizado no J Paul Getty Museum, Malibu, California, USA

Irmã do Leão de Neméia (ver postagem anterior), a Hidra também era filha da monstruosa Equidna e de Tifão (não de Ortro, como indicam algumas versões a respeito mito do Leão). Uma monstruosa e imensa serpente, com várias cabeças (de três a até cem delas, dependendo da versão, embora tipicamente fique entre sete e nove) e sangue profundamente venenoso que vivia nos pântanos de Lerna (novamente, nordeste do Peloponeso; indícios de superpopulação de monstros na região?). Ao contrário do irmão leonino, não existem, nos mitos, indícios de que ela representasse uma ameaça aos povos da região, provavelmente habitando submersa os pântanos e caçando eventuais animais e pessoas que adentrassem seu território. Próximo de sua morada vivia um gigantesco caranguejo que, dizia as lendas, era amigo da Hidra (estou pensando em fazer uma postagem a parte para ele).

Localização do lago de Lerna no Peloponeso.
Mas sua característica mais notável consistia em suas cabeças: de acordo com algumas versões, as cabeças da Hidra renasciam quando cortadas, sendo que em algumas versões até mesmo nasciam duas cabeças no local da decepada, tornando a fera continuamente mais perigosa. Apenas a cabeça do meio não regenerava, sendo imortal.
Suas presas venenosas e pesado hálito faziam-na um oponente indesejável, e o fato de viver isolada em um pântano não a tornavam um tormento para populações locais, de forma que não havia um grande anseio pela derrocada do monstro. Porém, ainda seria um perigo a ser considerado, e um desafio de grandes proporções para qualquer um.
Isso logo atraiu a atenção da ciumenta deusa Hera que, desejando acabar com  Herakles, ordena a Euristeu que mande o herói combater a perigosa Hidra.
O herói, acompanhado de seu sobrinho Iolaus, valente guerreiro, partiu para a missão em uma biga. Ao chegar as bordas do pântano de Lerna, Herakles encontrou-a próxima às fontes onde ela fazia seu ninho. Para que a fera se revelasse, ele atirou diversas lanças em chamas, ateando fogo às redondezas e forçando-a a emergir para poder respirar.
A Hidra então investiu contra o herói, enrodilhando-se em um dos pés dele enquanto tentava mordê-lo. Herakles a rechaçou com bravura, mas percebeu que as cabeças, quando cortadas, renasciam continuamente, de forma que a criatura parecia virtualmente invencível.
O caranguejo que vivia próximo ao covil atacou então o herói, que o combateu usando sua clava e esmagando-o e chamando Iolaus para ajudá-lo contra a grande serpente. O sobrinho, para ajudá-lo, acende tochas a partir de madeiras próximas, e usa o fogo para cauterizar as feridas abertas da Hidra, queimando os tendões recém decepados e impedindo que as cabeças tornassem a crescer.
Por fim, a cabeça imortal, após decepada, foi sepultada embaixo de uma imensa pedra que, dizem as lendas, se encontra no local até os dias de hoje. De seu sangue mortífero, Herakles banha suas flechas, que se tornam poderosamente venenosas.
Constelação de Hidra
Após a sua derrota final, a deusa Hera elevou o espírito do monstro caído aos céus, imortalizando sua memória na forma da constelação de Hidra (ou Hidra Maior). Essa constelação representa, ao contrário do que se poderia imaginar, uma serpente de uma cabeça apenas (provavelmente a cabeça central, que é imortal) e, ao contrário do Leão, não se situa no Zodíaco.
A Hidra pode ser considerada como um dos desafios mais mortíferos dentre os Doze Trabalhos, sendo um perigo que exigiu do herói uma certa dose de perspicácia e improviso, uma vez que, provavelmente ele não sabia que as cabeças do monstro regeneravam após cortadas ("como saberia?", me pergunto). O trabalho de equipe com seu sobrinho Iolaus também mostrou-se decisivo, uma vez que sua participação no combate foi essencial para que as cabeças parassem de regenerar.
Hidra na heráldica medieval
Apesar de ter sido vencida na lenda grega, a Hidra de Lerna tornou-se famosa, e sua fama transcendeu a mitologia, tornando-se uma besta de proporções muito mais abrangentes. Ela pode ser encontrada na heráldica medieval, onde normalmente é representada com sete cabeças, línguas e cauda pontudas e, eventualmente, com asas.
Ela aparece em várias fontes na cultura popular, mesmo que não necessariamente ligada à Herakles. Diversos filmes, jogos e desenhos apresentam hidras como monstros, por exemplo. Vários RPGs e wagames, de maneira similar, contém em seus bestiários hidras, quase sempre com a famosa habilidade regenerativa das cabeças.
Aliás, como descobri agora pouco, recentemente foi descoberto um novo satélite do nosso amigo planeta-anão Plutão, que foi batizado de Hidra. Interessante, não? hum... nem um pouco? Pena... tinha achado tão legal...
Hidra no RPG Dungeons and Dragons

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